quarta-feira, 8 de abril de 2009

PÃO, SANGUE E PALAVRAS

Sobre olhos enegrecidos e mudos
Sobre a catabáse de minha alma
Osculo o improvável, o inevitável
Torno-me esta coisa obesa, mórbida, crua, cheia de expectativas
Mãos tortas de apego e imensurabilidade
Nada, enfim, perfeito.

Sobre a ala de pêlos corporais
Encorpando-se a pele morena
Sou a dura arte da descoberta
Mudo, esquizofrênico, distante, deslizante
Sobre o afã do imaginável
Da desmesura, das mãos dramáticas de Caravaggio

Acima de mim?
Nem Deus, ele percorre minhas veias!
E nelas há um pouco de justiça
De preguiça em puro descanço
De boa bebida e comida com prazeres e dons

Sou o inevitável momento do que há de mais principal
Um eu transbordante
Em copos de água que escorrem ao mar aberto
Peito, Horizonte e Imensidão

Sobre meus dedos, minhas linhas, minha geografia
Há um sabor de caos
De rosa despedaçada
De leite, pão e mel
De palavra, ódio e amor
De tudo e nada
De rito e silêncio
De momento e afasia
Ânsia e azia

Tudo está em mim
E em mim deve ficar

E nesse menino que anda torto
Pés desengonçados e sem chão
Flutua sobre o que há de mais fantástico:
- Imprecisão.