Anna Júlia era uma menina mediana no colégio. Sempre esforçada, participativa, mas nunca um gênio. Bom, mas o que importa não é seu desempenho escolar e sim uma lembrança que ela teve durante a aula de Ciências. A professora era magra, cabelos lisos e os dentes escurecidos pelo tabaco, e enquanto dissertava sobre cadeias e teias alimentares, Aninha se lembrou de uma tarde de verão 2 anos atrás.
Era Janeiro, pico do verão carioca. Os termômetros marcando 39º graus no relógio digital da praça Saens Peña, zona norte. Mesmo ao final do dia, o local estava cheio de pessoas saindo do metrô no pós praia, velhinhos lendo seu jornal e jogando dominó e pombos bem gordos que corriam atrás dos pipoqueiros.
Aninha tinha ido passar o domingo com a avó paterna e depois de uma bela e farta macarronada, com direito a sorvete de chocolate de sobremesa, as duas foram até a cozinha partir pão velho em pequenos pedaços para oferecer aos peixes que viviam em um grande chafariz situado bem no meio da praça.
Anna Júlia chegou perto, observou os peixes e começou a jogar lentamente o pãozinho cortado com tanto esmero. O peixe, ao que tudo indicava, parecia feliz e saltitava nas águas esverdeadas como se agradecesse o pão daquele dia.
Eis que surge uma garça... Agora vamos parar para refletir um pouco leitor... Você já teve a oportunidade de ver este animal de perto? Esquisitíssimo, de uma finura sem igual. Creio que a linha de pipa com cerol deva ser da mesma finura que a pata deste ser. Garganta, bico, patas, tudo fino. Além da bizarrice do ser, vamos levar em consideração ao animal e seu contexto com os centros urbanos... Como aquela ave surgiu no meio da Tijuca? Bom, voltando. A garça iniciou aproximação com a menina, ficando ao seu lado e observando movimentação nas águas. Começou a se movimentar de forma esquisita, apontando o bico pra água e PIMBA, agarrou o peixe ainda vivo no bico e devido a sua estreita garganta era possível ver o animalzinho se debatendo rumo ao estômago. O susto foi tão grande que Júlia agarrou-se nas pernas da avó e chorou copiosamente enquanto a garça liberava suas excretas bem no meio do concreto quente.
Quando Aninha voltou a si, a professora já havia passado o trabalho de casa no quadro:
Faça uma cadeia alimentar:
Moleza... Pão---Peixe---Garça.