Saiu de casa atordoada, buscando nos carros e anúncios da cidade uma anestesia para sua dor. Estivera cansada daquele ar carregado, tãopavorosamente intenso, que ocluia desde os alvéolos pulmonares até as veias do dedão do pé. Sentia todo o corpo formigar e já não sentia as extremidades. Tomou o primeiro ônibus que a levasse pra longe. Quanto mais corria deixando pra trás sinais e túneis, mais tinha a sensação de que todo o resto ficara pra trás também. Resto. Era isto que ela era... um resto. Não satisfeita, era um restobagunçado . Um lixo remexido por vira latas famintos em busca de um simples pedaço de carne, quem sabe, alguma proteína nobre. Não... Simples ilusão. Nada de nobre restou. A podridão já havia tomado conta. As moscas recusavam aquele lixo.
O cheiro da maresia adentrou o veículo, fazendo-a perceber que estava na avenida litorânea. Decidiu subitamente descer e meio minuto depois estava com os pésnus na areia fofa e branca. Olhava para o horizonte quando concluiu que era apenas uma pequena partícula de uma grande molécula. Ela queria entender porque o mar conseguia manter um ritmo tão perfeito e simples, sendo tão vasto e imenso. Foi então que no ímpeto de uma pseudovida , resolveu fazer parte desta organização. Conforme ia entrando no mar, sentia o sal adentrar os poros, lavando primeiramente o corpo chegando até a alma. A água gelada fazia com que seus vasos se dilatassem e isto a deixava muito calma. A cada onda se sentia mais limpa, purificada e dado algumas horas estava tãolímpida que já não era possível vê-la. Tornou-se transparente no mesmo instante em que compreendeu seu sentido na imensidão...
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Hipóxia
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13 comentários:
E alguém q compreende o incompreensivel, transcende...
...ela não volta pra contar o resto da história... vida é reciclagem, né?!
Triste, mas... ao menos ela compreendeu, não é mesmo?!
Excelente!
É engraçado como está frio agora, e ao ler a descrição da água gelada, senti mais frio... E como não estou me sentindo bem espiritualmente, pensei que..
Se eu fosse até o mar agora e fizesse o mesmo, talvez pudesse compreender.. Pudesse limpar minh'alma.. Mas... Ainda não estou preparado para tornar-me transparente.
lindo, vc escreve muito bem. Parabens. é bom vir aqui. Tenha um belo domingo.
Maurizio
Boa semana!!
tornar-me transparente era um dos meus sonhos...
bom saber que esse blog está vivo.
beijos!
Restobagunçado! Essa nova palavra faz-me compreender como eu me sinto às vezes...
Talvez eu esteja precisando de um banho de mar, pra ter a epifania de compreender o sentido, qualquer que ele seja!
Ótimo texto! Adorei!
É preciso mergulhar fundo para encontrar a própria superfície. Gostei, muito bom. Boa semana.
ALBERGUE MENTAL
http://caioalbergue.blogspot.com
nossa... me lembrou uma passagem de Palomar, do Calvino! a percepção da existência hogramática com o universo é intensa e recontrói o ser na pior das situações...já passei algumas vezes por isso! bonito o conto!
beijos!
Olá, Vica!
Quem nunca passou por isso...desesperado ou não?.
A musica sensacional!!
Um abraço
ENERGIA PURA.
Belo texto!
São sensaçõe e questionamentos eternos, mas que nos proporciona excelentes escritas e leitura...
B.E.I.J.O.S
Pescou o sentido da coisa, guria: é possível ser feliz mesmo sem acreditar em Deus.
Só sabe o mar
Ir e voltar
Ah, mar
Mar que sabe
Porque não cabe
Daí continuar
A ondular
Enquanto nossas ondas
Viram rondas
Estrondosas tempestades
Tropegas sobre vis verdades
MAs isso
Da missa
Não é nem a metade...
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