sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hipóxia


Saiu de casa atordoada, buscando nos carros e anúncios da cidade uma anestesia para sua dor. Estivera cansada daquele ar carregado, tãopavorosamente intenso, que ocluia desde os alvéolos pulmonares até as veias do dedão do pé. Sentia todo o corpo formigar e já não sentia as extremidades. Tomou o primeiro ônibus que a levasse pra longe. Quanto mais corria deixando pra trás sinais e túneis, mais tinha a sensação de que todo o resto ficara pra trás também. Resto. Era isto que ela era... um resto. Não satisfeita, era um restobagunçado . Um lixo remexido por vira latas famintos em busca de um simples pedaço de carne, quem sabe, alguma proteína nobre. Não... Simples ilusão. Nada de nobre restou. A podridão já havia tomado conta. As moscas recusavam aquele lixo.
O cheiro da maresia adentrou o veículo, fazendo-a perceber que estava na avenida litorânea. Decidiu subitamente descer e meio minuto depois estava com os pésnus na areia fofa e branca. Olhava para o horizonte quando concluiu que era apenas uma pequena partícula de uma grande molécula. Ela queria entender porque o mar conseguia manter um ritmo tão perfeito e simples, sendo tão vasto e imenso. Foi então que no ímpeto de uma pseudovida , resolveu fazer parte desta organização. Conforme ia entrando no mar, sentia o sal adentrar os poros, lavando primeiramente o corpo chegando até a alma. A água gelada fazia com que seus vasos se dilatassem e isto a deixava muito calma. A cada onda se sentia mais limpa, purificada e dado algumas horas estava tãolímpida que já não era possível vê-la. Tornou-se transparente no mesmo instante em que compreendeu seu sentido na imensidão...