sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hipóxia


Saiu de casa atordoada, buscando nos carros e anúncios da cidade uma anestesia para sua dor. Estivera cansada daquele ar carregado, tãopavorosamente intenso, que ocluia desde os alvéolos pulmonares até as veias do dedão do pé. Sentia todo o corpo formigar e já não sentia as extremidades. Tomou o primeiro ônibus que a levasse pra longe. Quanto mais corria deixando pra trás sinais e túneis, mais tinha a sensação de que todo o resto ficara pra trás também. Resto. Era isto que ela era... um resto. Não satisfeita, era um restobagunçado . Um lixo remexido por vira latas famintos em busca de um simples pedaço de carne, quem sabe, alguma proteína nobre. Não... Simples ilusão. Nada de nobre restou. A podridão já havia tomado conta. As moscas recusavam aquele lixo.
O cheiro da maresia adentrou o veículo, fazendo-a perceber que estava na avenida litorânea. Decidiu subitamente descer e meio minuto depois estava com os pésnus na areia fofa e branca. Olhava para o horizonte quando concluiu que era apenas uma pequena partícula de uma grande molécula. Ela queria entender porque o mar conseguia manter um ritmo tão perfeito e simples, sendo tão vasto e imenso. Foi então que no ímpeto de uma pseudovida , resolveu fazer parte desta organização. Conforme ia entrando no mar, sentia o sal adentrar os poros, lavando primeiramente o corpo chegando até a alma. A água gelada fazia com que seus vasos se dilatassem e isto a deixava muito calma. A cada onda se sentia mais limpa, purificada e dado algumas horas estava tãolímpida que já não era possível vê-la. Tornou-se transparente no mesmo instante em que compreendeu seu sentido na imensidão...

13 comentários:

Rackel disse...

E alguém q compreende o incompreensivel, transcende...
...ela não volta pra contar o resto da história... vida é reciclagem, né?!

Triste, mas... ao menos ela compreendeu, não é mesmo?!

Anônimo disse...

Excelente!

É engraçado como está frio agora, e ao ler a descrição da água gelada, senti mais frio... E como não estou me sentindo bem espiritualmente, pensei que..

Se eu fosse até o mar agora e fizesse o mesmo, talvez pudesse compreender.. Pudesse limpar minh'alma.. Mas... Ainda não estou preparado para tornar-me transparente.

meus instantes e momentos disse...

lindo, vc escreve muito bem. Parabens. é bom vir aqui. Tenha um belo domingo.
Maurizio

Anônimo disse...

Boa semana!!

Marcos Aquino disse...

tornar-me transparente era um dos meus sonhos...

bom saber que esse blog está vivo.

beijos!

Grazi disse...

Restobagunçado! Essa nova palavra faz-me compreender como eu me sinto às vezes...
Talvez eu esteja precisando de um banho de mar, pra ter a epifania de compreender o sentido, qualquer que ele seja!
Ótimo texto! Adorei!

Caio Miniaturas disse...

É preciso mergulhar fundo para encontrar a própria superfície. Gostei, muito bom. Boa semana.

ALBERGUE MENTAL
http://caioalbergue.blogspot.com

Ju disse...

nossa... me lembrou uma passagem de Palomar, do Calvino! a percepção da existência hogramática com o universo é intensa e recontrói o ser na pior das situações...já passei algumas vezes por isso! bonito o conto!
beijos!

Sergio disse...

Olá, Vica!

Quem nunca passou por isso...desesperado ou não?.

A musica sensacional!!

Um abraço

Anônimo disse...

ENERGIA PURA.

Bianca Feijó disse...

Belo texto!

São sensaçõe e questionamentos eternos, mas que nos proporciona excelentes escritas e leitura...

B.E.I.J.O.S

Unknown disse...

Pescou o sentido da coisa, guria: é possível ser feliz mesmo sem acreditar em Deus.

Salve Jorge disse...

Só sabe o mar
Ir e voltar
Ah, mar
Mar que sabe
Porque não cabe
Daí continuar
A ondular
Enquanto nossas ondas
Viram rondas
Estrondosas tempestades
Tropegas sobre vis verdades
MAs isso
Da missa
Não é nem a metade...