domingo, 30 de novembro de 2008

"Ele lhe mostrou uma chave presa numa placa de madeira em que havia um número seis escrito em vermelho."

Même para vocês!

Original
"Règles:
* Attrapez le livre le plus près de vous. Maintenant.
* Allez à la page 56.
* Trouvez la 5e phrase.
* Écrivez cette phrase dans votre statut.
* Copiez ces instructions en commentaire à votre phrase.
* Ne cherchez pas votre livre préféré ou le plus cool mais bien le plus proche"


Tradução (mal feita, mas ainda sim, válida)

Regras:
* Pegue o livro mais perto de você agora.
* Vá até a página 56.
* Encontre a 5ªfrase.
* Escreva essa frase no seu blog (e nos meus comentários também, ora bolas)
* Copie essas instruções no comentário a sua frase (no seu blog, se você estiver a fim de passar o même adiante, claro!)
* Não procure seu livro preferido, nem o mais legal que você tem em casa. Pegue o que está realmente mais próximo de você nesse momento.

Frase do meu livro:

"Ele lhe mostrou uma chave presa numa placa de madeira em que havia um número seis escrito em vermelho."

(KUNDERA, Milan. A insustentável leevza do ser, pg 56: Rio Gráfica)

*Na verdade, o livro mais próximo de mim era 'A arte de amar' do Ovídio, mas a pg 56 está em branco (troca de capítulos =/ ...), então, tive de pegar o debaixo desse. Assim reencontrei o Kundera que estava esquecido aqui na bagunça do meu quarto...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cópia?! (parte II*)

.....Entendo que a criação literária possa despertar inveja nos demais. Afinal, criar um mundo ou recontá-lo através de suas palavras, causar o riso ou a comoção alheia, colher os louros por seu talento são coisas que fascinam a grande parte dos seres humanos. Isso ocorre por alguns motivos bem simples: A beleza física, por exemplo, é algo temerário e discutível. Com o tempo, um rostinho bonito e um corpinho sarado perdem seu valor. O dinheiro é um recurso que nem sempre é bem administrado e pode esvair-se nas mãos de quem não sabe cuidá-lo. Inteligência, por sua vez, é o único atrativo que uma pessoa carregará consigo pela vida inteira.
.....Imagine como deve ser bem quista uma pessoa capaz de provocar o riso com uma crônica bem elaborada e como se torna sedutor um poeta capaz das mais belas imagens e dos mais refinados versos? Imagine você quantos desejam esse dom?! Eu mesma sou amante da boa escrita. Não daquela que demonstra nosso domínio da gramática, mas de uma obra que me toca por algum motivo. Também sonho com uma glória literária que jamais alcançarei, visto que não tenho talento e, por mais que tenha estudado os clássicos, reconheço que estou bem aquém dessa literatura que tanto aprecio.
.....O que me preocupa agora não é o fato de não ter talento. Com isso já estou conformada. O que me preocupa, aliás, me corrói os nervos nesse momento é perceber que as pessoas não se conformam de não serem tão talentosas como as outras e cometem os atos mais vis para receber meia dúzia de elogios que nunca as pertencerão de fato. Falo aqui mais uma vez de uma prática desonesta denominada cópia.

.....Faz pouco tempo que li esses textos aqui em baixo:

IGUAL: http://sunflowerrecords.blogspot.com/2008/07/post-velho-blogue-novo.html
versus: http://doceintolerancia.blogspot.com/2008/09/sobre-o-quando-minha-cadela-me-choca.html


PARECIDO: http://sunflowerrecords.blogspot.com/2008/04/na-amizade-no-cinismo-e-na-doena.html

versus: http://doceintolerancia.blogspot.com/2008/09/na-amizade-na-desgraa-e-no-cinismo.html


.....Não sei nem o que pensar. Se tenho pena da *‘copiona’ ou da *‘copiada’ - sim, porque a copiada fica sem os créditos e sem os elogios devidos a sua produção e a ‘copiona’ me causa ainda mais pena pois nunca chegará aos pés daquela que copia se não passar a criar em vez de tomar o alheio como seu e viverá para o resto de seus dias sabendo que é uma farsa completa, digna de escárnio e repulsa. Mais uma vez me peguei sem saber se rio ou se choro.
.....Ser copiada talvez seja a prova cabal de que você produz algo interessante – você não é mais um medíocre, você é agora um escritor lido, comentado e copiado, ou melhor, digno de ser “repassado”. Ser copiado te priva de receber o feedback do leitor e de alimentar o seu ego – o que eu costumava fazer quando lia os comentários aos textos que publiquei neste blog *. Ser copiado também te faz pensar em como o ser humano é capaz de agir para obter um simples elogio (por que em muitos casos uma cópia rende apenas isso) e como o mundo a nossa volta pode ser medíocre: na falta de inspiração, usa-se o talento do outro para parecer menos imbecil ante a sociedade hipócrita em que vivemos. Tem dado certo para algumas pessoas...

.....Acho que usar uma obra alheia sem dar o devido crédito ao autor é, no mínimo, uma prova de parca inteligência. No caso dos textos linkados acima é ainda mais idiota. Algum dia perceberão que a suposta autora é uma farsa ou que 'inspirou-se' em outrem para construir o seu. Não há nada demais em inspirar-se verdadeiramente no outro para sua criação. A ciência, por exemplo, depende disso. Só acho o cúmulo as pessoas esquecerem de onde surgiu todo o conhecimento de que se utilizam para escrever, compor, criar, etc, etc...
...

*Se você ainda não conhece o blog, leia também a parte I. Está alguns posts abaixo.
*Para saber quem são a 'copiona' e a copiada, preste atenção nas datas de publicação dos 2 blogs.
*Sim, tenho um EGO do tamanho de um mundo e escrevo para ser comentada! Elogios e críticas são bem vindos. Se eu não os quisesse, escreveria no meu diário particular e manteria os textos inéditos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

C'est l'amour?!

....Amo!

....Não sei mais o que pensar. Não sei mais como agir, o que sentir, nem o que querer. Já não sou mais o que era antes, mas tão pouco sei o que sou agora... Sei que mudei.

...
....Nunca entendi bem essa de amor... os pensamentos são desconexos, as atitudes denunciam que outra se criou dentro de mim e extinguiu a chama daquela que outrora eu fora. Hoje algo grita em meu peito, sai pelos meus poros, escorre pelos olhos ou torna-se metáfora na World 'Wild' Web...

....Amo?!

....Não sei, achei que fosse amor...

...

Il me manque beaucoup...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hipóxia


Saiu de casa atordoada, buscando nos carros e anúncios da cidade uma anestesia para sua dor. Estivera cansada daquele ar carregado, tãopavorosamente intenso, que ocluia desde os alvéolos pulmonares até as veias do dedão do pé. Sentia todo o corpo formigar e já não sentia as extremidades. Tomou o primeiro ônibus que a levasse pra longe. Quanto mais corria deixando pra trás sinais e túneis, mais tinha a sensação de que todo o resto ficara pra trás também. Resto. Era isto que ela era... um resto. Não satisfeita, era um restobagunçado . Um lixo remexido por vira latas famintos em busca de um simples pedaço de carne, quem sabe, alguma proteína nobre. Não... Simples ilusão. Nada de nobre restou. A podridão já havia tomado conta. As moscas recusavam aquele lixo.
O cheiro da maresia adentrou o veículo, fazendo-a perceber que estava na avenida litorânea. Decidiu subitamente descer e meio minuto depois estava com os pésnus na areia fofa e branca. Olhava para o horizonte quando concluiu que era apenas uma pequena partícula de uma grande molécula. Ela queria entender porque o mar conseguia manter um ritmo tão perfeito e simples, sendo tão vasto e imenso. Foi então que no ímpeto de uma pseudovida , resolveu fazer parte desta organização. Conforme ia entrando no mar, sentia o sal adentrar os poros, lavando primeiramente o corpo chegando até a alma. A água gelada fazia com que seus vasos se dilatassem e isto a deixava muito calma. A cada onda se sentia mais limpa, purificada e dado algumas horas estava tãolímpida que já não era possível vê-la. Tornou-se transparente no mesmo instante em que compreendeu seu sentido na imensidão...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Amor... ah, o Amor!

Versão franco-brasileira com Henri Salvador e Gilberto Gil...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Cópia?!?

É galera... parece que o (Falta de) Inspiração tem servido mesmo é de 'inspiração' pra muitas pessoas por aí afora... Hoje encontrei 2 sites copiando textos da gente. Não sei se rio ou se choro! Seria interessantíssimo ver textos do blog em outros veículos de comunicação, contanto que houvesse um aviso prévio aos autores do Blog. Num dos sites, os textos estavam com os devidos créditos (tudo dentro dos conformes). Eu só não entendi por que não avisaram sobre a publicação. Esquecimento talvez?!
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O fato é que em vez de ter uma boa surpresa, fiquei foi assustada ao ver os textos em outros lugares(mesmo com os créditos) ... Não somos Machado de Assis ou José de Alencar dos blogs, por isso o susto... mas tudo bem. Certamente meus amigos bloggueiros entendem a minha preocupação. Deixo claro que ninguém desse site em questão cometeu crime algum já que puseram a fonte dos textos, então questão resolvida. Sem maiores polêmicas. Sem mortos ou feridos! rsrsrs
http://www.copyscape.com/view.php?o=32993&u=http%3A%2F%2Fleader.top5-top.info%2Floja-do-som-info.htm&t=1205800716&s=http%3A%2F%2Ffaltadeinspiracao.blogspot.com%2F&w=26&c=1

http://www.copyscape.com/view.php?o=32993&u=http%3A%2F%2Fwww.cadernor.com.br%2Fmulher%2Findex.php%3Foption%3Dcom_content%26task%3Dview%26id%3D206%26Itemid%3D43&t=1205800716&s=http%3A%2F%2Ffaltadeinspiracao.blogspot.com%2F&w=23&c=

http://www.cadernor.com.br/mulher/index.php?option=com_content&task=view&id=207&Itemid=43

Quem quiser usar conteúdo do blog, peça autorização via e-mail ou deixe um contato nos comentários relacionados ao texto que se quer copiar. Susto a parte, saber q os textos daqui foram escolhidos é muito bom! Faz bem ao ego. Mas para prevenir novos sustos, prefiro que, de agora em diante, me peçam cópia daquilo que quiserem utilizar. Mando por e-mail a quem interessar. É melhor assim.

O meu e-mail para contato é rackeldpj@gmail.com. Se o texto não for minha criação, passarei o contato para o autor em questão.

Grata,
Rackel

quarta-feira, 12 de março de 2008

Espólio



Era noite. Na cabeceira da cama havia uma ponta, um maço de cigarros e um cinzeiro cheio de guimbas... No chão, um par de sandálias que não o pertenciam, um vestido em malha balli e alguns adornos por ela utilizados na caçada dele próprio - como os brincos, o colar e as pulseiras... Já na cama ao seu lado estava aquele corpo feminino nú, de formas tão brandas e carnes tão macias... quase pueril, não fosse o que ela sabia fazer com ele. Não sabia mais se era sua presa ou seu caçador.

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Só sabia que ela era dele, não havia a menor dúvida! Olhava suas curvas cansadas sobre aquele leito... seu playground particular! Apesar de exausto, seu corpo continuava semi-erguido - à meia luz para não atrapalhar o sono dela - estupefato, admirando a formosura daquela que sabia como ninguém arrancar os seus mais profundos suspiros...

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Ela, entretanto, não era dele. Na verdade, ela não pertencia a um alguém concreto, nem a ela mesma... Ela dizia pertencer ao mundo. Mas seus cabelos tão lisos e tão negros jaziam ali, no dormitório dele... Não importava o que diziam ela e os outros, certo?!.
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O que era realmente importante, é que naquele exato instante era ele quem contemplava a beleza indescritível daquela moça... era para ele que ela havia usado os delicados enfeites espalhados pelo cômodo e com ele que ela havia cantado sonatas de amor durante toda uma madrugada entregue aos devaneios da libido humana... eram dele o suor e a seiva envoltos no corpo de menina trigueira que ela ostentava...
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Deitou-se ao lado dela, apagou a luz e perpassou seu braço por cima daquele outro tão miúdo que ali repousava... queria aproveitar cada segundo imerso no calor daquele tronco esbelto, sentindo o perfume da nuca tão bem entalhada e com suas pernas enroscadas entre as dela... No fundo ele sentiu que seria a última vez que a consumiria daquela forma.
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Ele sabia que a menina travessa com quem se deitava de quando em vez, tem certa mania de surgir e desaparecer quando melhor lhe convém. Para a moça arredia não adiantava que ele deixasse recados na caixa postal do celular ou comentasse saudades com suas amigas... nessas ocasiões, num completo paradoxo, ela era tal qual uma guerreira austera que nunca rendia-se aos encantos ou apelos de ninguém. Era a favor da liberdade e não permitia que houvesse vínculo emocional entre eles... O que importava era apenas a satisfação dos seus caprichos de menina mimada. A vitória tinha de ser sempre dela...
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(...)

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Na manhã seguinte ela desperta faceira e anda pelo cômodo a procura de suas vestes. Quase como num ritual, orna-se novamente com tudo o que ele arrancara de seu corpo na véspera - a não ser pelo brinco de capim dourado cujo par se perdera durante a intensa movimentação de seus corpos - e leve como uma pluma, deixa aquela residência, sem contudo, acordá-lo.
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(...)

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No momento em que ele desperta, busca com os olhos o objeto do seu desejo... e dá-se conta do óbvio: ela se foi. E no mesmo instante pensa: 'será que sonhei com ela?'

..
Olhando para os lados a procura da sua velha companheira nicotina, vê a marca de batom numa guimba dentro do cinzeiro... foi real. Foi su-real! Nota também o brinco que ela tanto procurou mais cedo... estava quase embaixo do colchão, ao lado dele, somente com uma pontinha aparecendo. Acende o cigarro absorto nos próprios pensamentos...

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Não era a primeira vez que ela se ia, mas era a primeira em que deixava-o sem um beijo de bom dia... Diante disso, percebeu que nunca mais veria a dona daquele brinco. Guardou-o como a um espólio de guerra... espólio da batalha em favor do prazer. Tinha de resignar-se apenas com aquela singela lembrança de noites tão bem compartilhadas...
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Apagou o cigarro, voltou ao leito e tornou a dormir. Naquele momento, nada poderia ser melhor do que uma noite - ou manhã - bem dormida ..


(...)

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Escrito originalmente em setembro de 2007. Modificado em março de 2008.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Crise dos 30 anos

...Chovia muito naquela noite. Parecia que o céu estava desabando sobre a cidade. E ele bebia incessantemente... e chorava intensamente. Tanto que não sabia mais diferenciar a chuva no vidro da janela das lágrimas em seus olhos.


...Na mão direita havia certo veneno para matar ratos. Ele olhava... examinava bem a embalagem e se perguntava quanto daquilo seria necessário para pôr fim a sua existência.


...De tão ébrio, seus olhos mostram duas embalagens. Ele nem
mesmo conseguia se colocar de pé, quanto mais administrar a dosagem correta para o suicídio indolor – e a dor era uma grande preocupação dele, sempre foi. Ele não queria mais dor! Sua cabeça girava... e pesava...
Acabou dormindo em razão da vasta quantidade de álcool em seu sangue – destilados deixavam-lhe com muito sono.







(...)


...A verdade é que ele era um jovem bem sucedido, numa instituição de ensino para uma gente muito bem sucedida, numa empresa arrojada e bem sucedida, numa cidade de gente legal e... bem sucedida! Num lugar razoavelmente novo, ao qual ele, menino introvertido da serra, ainda não havia se adaptado.


...Seus dias iam passando e ele só na rotina ‘casa > trabalho > pós > casa’... nada de novo ocorria e a solidão continuava corroendo seu peito. Anos se passavam... e o tempo passava rapidamente, porém ele ainda não havia conseguido fazer daquele o seu novo habitat. Parecia um peixe fora d’água naquela metrópole cheia de gente, mas sem ninguém pra desabafar ou mesmo divagar sobre qualquer trivialidade. Não tinha alguém pra conversar...




...E pensava: ‘Aquilo tinha sentido?! Tinha!’. Ele saiu de sua cidade em busca de um sonho e com a promessa de que tudo ia melhorar - ele tinha de mandar dinheiro para a mãe em casa e provar que tudo poderia ser diferente!


(...)


...Acordou. Era uma manhã tão clara e tão calma a daquele dia. Ele acordou com certa preguiça de levantar... olhou para o criado-mudo e viu o relógio: Era hora!


...A noite turbulenta não aplacou sua vontade ébria. Pelo contrário, só aumentou seu desgosto. Ele sonhara com uma esposa carinhosa, três crianças sorridentes e um cachorro babão. E todos esses habitando uma casa que tinha quintal e varanda, no meio de um churrasco lotado de amigos do casal, das famílias, dos amigos das crianças... sonhou com isso e acordou com a revolta estampada no rosto. Percebeu que nada daquilo se tornaria realidade tão cedo e teve mais raiva da vida que escolheu para si.


...Nem a chuva e nem o choro do dia anterior haviam lavado sua alma. A manhã estava clara e o céu absolutamente límpido... extremo oposto do que acontecia em sua alma.


...Levantou e foi se lavar. Ao chegar defronte ao espelho, mirou-se bem nele. Não havia nada de diferente, mas ele não sentia-se bem. Fitou-se por um tempo, tentando descobrir alguma coisa sobre si mesmo... e NADA! Estava em crise.


...Passando pela sala do flat modernamente mobiliado, olhava como se nada daquilo o pertencesse, como se tivesse nojo dos objetos ali prostrados. Na mesa, vários cartões que chegaram pelo correio. Do dentista que ele não ia há mais de um ano, do clínico geral, da loja de sapatos, da charutaria, do clube automobilístico que tentara freqüentar, do banco onde era cliente... tanta coisa... tanto lugar, tanta gente que ele não via há muito! Entretanto, não havia mensagem alguma daqueles com quem ele lidava diariamente, dos ‘amigos de longa data’, da pseudo-namorada que ele só via uma vez ao mês... desses, nem sombra! E ele ponderava: ‘onde foram todos?!’


...O fato é que não havia esse ‘todos’ de quem ele falava. De amigos, ele só tivera dois, na época da escola. Só que a vida atribulada que levava não permitia que ele dispensasse alguns minutos de seu precioso tempo para dar certa atenção que merecem as amizades.


...A namorada era algo conseguido a muito custo, ainda na cidade natal. Ele era tímido e mal conseguiu balbuciar seu interesse pela moça. Sorte que ela era bastante compreensiva... Compreensiva mas não tola! Ficara lecionando na serra e por isso, ele não a via com tanta freqüência. Foram anos de espera e ela não mais sentia-se valorizada. Consequentemente, a moça desistiu de tal relacionamento. Só ele que ainda não percebeu sua ausência. Na verdade, ele está percebendo... aos poucos, ele está reparando que não lhe sobrou mais nada.


...Essa é a razão de seu desespero... ele está sem chão. Ele não tinha mais amigos, não tinha mais hobbies, nem mulheres. Ele tinha uma pós-graduação para terminar e uma empresa para chefiar! Era dos funcionários mais novos e com um dos mais altos cargos. Era temido e idolatrado. Isso fazia com que ninguém chegasse nele e ele, como acanhado que era, tão pouco chegava em alguém. O tempo passava e ele continuava só.


(...)


...Um turbilhão de coisas passa pela sua mente nesse momento... ele sabia que era culpado da própria situação em que se encontrava. Ele percebeu que não fazia bem a si mesmo... ele percebeu que não poderia mais voltar atrás... não, isso não podia ser feito. Que lhe restava fazer então?!






...Olhou o vidro em cima da mesa... observava atentamente o rótulo. Uma caveira negra e uns escritos de ‘perigo’, ‘cuidado ao manusear’, etc saltavam aos olhos... era algo que prometia eliminar ratos. Que coincidência, porque ele mesmo achava um rato quem foge das suas responsabilidades. Mas aquela fuga era inevitável... olhava o vidro... ponderava novamente a quantidade necessária para o fim daquilo tudo.

...Hoje era um dia atípico. Não era a dor-de-cabeça proveniente de uma baita ressaca que tornava tudo tão diferente dos outros dias - aliás, para ele era muito estranho pensar em morrer assim num dia tão bonito. Ele, entretanto, estava agora sóbrio e a mesma idéia da noite ébria lhe perpassava a mente. E ele se surpreendia por ter agora uma coragem que nunca antes pensara possível para si mesmo. O tempo passava, ele envelhecia e permanecia sozinho.

...Pegou um copo d’água. Nem precisava, já que o veneno dava para ser engolido sem isso... mas era só para dar uma ajuda, caso ele desistisse 'tarde demais'. Olhava aquele vidrinho feio em cima da mesa... várias coisas se passavam em sua cabeça. Várias memórias...


...Sua garganta começava a fechar-se. Parecia que havia algo preso nela. Era o choro que ele não queria chorar. Eram as lágrimas forçando uma descida caudalosa pelas faces ainda amarrotadas da noite mal dormida. Mas ele seria forte nesse momento. Ele não deixaria que nenhum soluço o desviasse de seu objetivo principal...


...Pegou algumas bolinhas daquele treco e já ia colocando na boca, quando subitamente sua linha de raciocínio é rompida pelo som do telefone:
...“-- Alô?!
...-- Filho?!
...-- Sim?!
...-- Meu querido! Que você tenha muita paz, muita saúde, amor e sucesso nesse dia tão especial! Ah, 30 anos... que beleza, meu filho!
...-- Obrigada, mas...
...(Interrompe a mãe) – Seu pai, que Deus o tenha, deve estar muito orgulhoso de você! Eu te amo muito, viu?!”




...Ele solta um sorriso abafado do outro lado da linha... lágrimas de felicidade jorram em seu rosto.




...“-- Pena que não posso ficar muito tempo no telefone, porque é interurbano! Nos falamos melhor quando eu puder ir à cidade te visitar, sim?!
...-- Tudo bem... obrigado por ter lembrado, mãe. Foi bom a sra. ter ligado!
...-- Um beijo meu garoto, te cuida viu!
...-- Beijo, mãe.” ..




...Hoje era seu aniversário, mas não houve comemoração. Tão pouco houve um suicídio. Na verdade, ele se sentia velho e solitário. Para a velhice não há mesmo remédio, mas quanto à solidão...
...Bom, tudo o que ele precisava era de alguém pra falar, conversar... tudo o que ele queria era alguém que se lembrasse, alguém que se importasse... e ela se importava. Já era o bastante. Agora ele entendia porque o suposto dia da sua morte estava tão bonito...





(...)



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Chove torrencialmente dentro de mim

Chove Torrencialmente dentro de mim... Sinto que já pressentia a enxurrada que estava por vir como uma velha senhora que sente a chuva por vir com a mudança dos ventos.
Chuva transformadora, libertadora de mim... Antes presa num recipiente hermeticamente fechado, agora escorrendo entre teus lábios, lavando carinhosamente tuas feições, umidificando a alma.
Não há relampagos nem trovões que me façam desviar dos teus olhos. É simplesmente aquela chuva que você senta em frente da janela e observa... Lava vidraça, lava meus olhos como se agora pudesse ver dentro de ti. Os pingos no chão me fazem lembrar do estalido dos beijos que jamais esqueci. Não vejo temor no céu cinzento e obscuro.
A chuva me envolve a cintura assim como fazes teus braços. Também não há frio, a água que evapora parece tua respiração na minha nuca. O cheiro de terra molhada que faz brotar as mais infimas emoções. Os ventos te trouxeram até aqui...
Chove torrencilamente dentro de mim como se quisesse preencher o vazio de minh'alma... como se quisesse varrer pra longe toda a instabilidade... como se essa chuva, agora, fizesse parte de mim...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Poesia?!? Não, apenas meras palavras...


Sinto cheiro de poesia no ar...

as palavras se criam, recriam, somem, voltam...

o aroma delas me persegue,

entra pelas minhas narinas,

desce pelas minhas entranhas,

adentra meu estômago....
.

.
Sinto fome!



.
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... fome das palavras vãs a que me apeguei...

das laudas larápias que contam, recontam, mentem e revoltam!

Das cenas que a elas se seguem

... das juras fingidas

... dos espasmos sofridos,

do sussurro ao pé do ouvido...
.

.
Fome daquelas palavras roubadas

e profanadas
...
- E poetizadas?! -
.

.
Não!
.

.
Naquela boca eram

apenas meras palavras...
.
...

...
.
..

Nada pra fazer, vou brincar de escrever! rs
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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Carnaval 2008



Foto de Marcos Aquino

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Um HAIKAI (ou seria um HAIKÚ?)

O outono escuta
Barulho de folhas secas
Se pisar meu peito

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Só um adendo.

Enquanto há recessão de inspiração, fica aí esse adendo pseudoinfopinativo:
Pesquisa mostrou as instituições nas quais os brasileiros mais e menos confiam, a saber:
A mídia e o governo respectivamente....

Ao ter acesso à essa informação, cocei minhas suíças (tão pseudoinfopinativas quanto esse adendo) e pensei: "Somos gênios ou idiotas... Hum, será que é possível ser os dois meio-a-meio?"

Depois disso pensei em escrever um texto sobre a credulidade e a incredulidade do brasileiro. Mas fiquei pensando sobre esse lance de meio-a-meio e decidi que era mais proveitoso comer um trakinas...

R!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

All Star novo

Não é lindo?!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Flerte

Foto de Alberto Santos, 08/2004
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Eu o vi de relance e olhei novamente... Estávamos num festival de música duma cidadezinha no interior do Rio de Janeiro. Lembro que eu tomava um vinho 'bagaceira' nessa hora.
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Era o show de um artista meio brega, desses que você tem vergonha de contar que viu ao vivo... quando olhei novamente, vi que seu olhar encontrava-se com o meu...
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Eu deveria parar, mas estava adorando 'levar flechadas daquele olhar'... e continuei olhando... agora não só olhava como também sorria para o dono daqueles olhos castanhos...
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Acabou o show. Eu e minhas amigas dirigimo-nos até o toillet mais próximo. Fi-lo seguir-me... creio que meu olhar também despertara seu interesse e confirmei-o mais tarde durante nossa conversa.
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Continuei a observá-lo na fila... e ele a mim. É incrível como podemos dizer tanto sem falar palavra alguma... seus olhos diziam inúmeras coisas aos meus... coisas que só os olhos podem dizer... coisas que não são passíveis de descrição e que só os olhos compreendem... Vai entender! rs
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Seguiu-me depois, até tomar coragem de falar-me. Apresentou-se a mim e às minhas amigas. Parecia 'safo' demais, no entanto, havia certo indício de insegurança em suas palavras, mas isso ele disfarçava bem... creio que só eu o percebi.
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Trouxe outros consigo, para que ninguém se sentisse solitária. Conversávamos sobre tudo e sobre nada... eram trivialidades apenas... mas a companhia dele estava tão boa... o assunto rendia mesmo que não fosse do nosso interesse...
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E falávamos... beijávamos, e não mais falávamos... parecia que eu já o conhecia profundamente... o tempo havia estacionado, o frio de 3ºC já tinha se tornado calor enquanto estava envolta naqueles braços. A música agora era lenta, não por que ela assim o fosse, mas por que essa ficou sendo a lembrança daqueles instantes. O céu estava cheio de estrelas...
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Era um alguém exótico, diferente dos outros, difícil de rotular... talvez por isso a música de fundo na minha memória seja diferente da que tocava de fato no dia... talvez por isso eu tenha gostado tanto. Era um pequeno flerte no meu feriadão de Corpus Cristi, a novidade pra 'cerva' de fim-de-semana com as amigas, minha pequena válvula de escape da rotina...
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... Era um alguém que eu nunca mais veria...
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(...)
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E a música cessou, o festival acabou, o frio voltou, o ônibus demorou ... mas a volta para casa foi tão doce quanto a 'sangria' que tomava no começo da noite ...


...
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É... com as devidas ressalvas, essa é uma página do meu diário, editada claro, pra que ninguém se sentisse exposto e nem eu fosse processsada! Como a última postagem foi sobre beijo, nada melhor que escrever sobre um flerte.
Esse texto foi escrito originalmente em 12/06/07 e modificado hj, dia 10/01/08.
rs

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Morte na Rua Paraíso

'1, 2, 3, 4'...
... que barulho estranho! ... Parece?!? ...
Quantos gritos!?! ...
... Chego na janela e: '5, 6'!!!
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No chão, no chão, no chão!!
... Foram mais dois disparos.
(...)

pintura de 1894 intitulada 'O Cadáver', exposta no museu Alemão da Higiene em Dresden
(Na reportagem não encontrei o nome do autor)



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Mais dois disparos e mais nenhum grito... segundos depois, o silêncio da rua era rompido apenas pelo desespero da viúva:

" --Mataram meu marido, mataram meu marido!!"
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Eu continuava deitada no chão, com medo de mais alguma coisa e não sabia bem do que. Por trás das paredes de concreto da minha sala, não enxergava nada, mas via tudo....
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Via uma viúva atônita, sem nem conseguir acreditar no que estava acontecendo... ela não chorava. Acho que nem sabia chorar. Ela estava em pânico e só sabia gritar:
" --Mataram meu marido!!!" ....
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Via o bebê recém-nascido no colo dela - ele chorava de quando em vez, mas não devia saber o que estava acontecendo... acho que chorava devido as sacolejadas no colo da mãe... via os outros dois filhos dela, duas pequenas crianças lacrimejando e ganindo diante da cena funesta. Duas crianças com as cândidas almas sendo profanadas por imagens tão bestiais como aquela...
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Via os vizinhos consolando a viúva, ou tentado consola-la... acho que no fundo, eles tentavam consolar-se a si próprios. Moram numa cidade tomada por um poder paralelo que adentra as casas das pessoas e muda para sempre a sorte de uma família, ou melhor, de várias famílias... Moram num lugar onde se mata maridos na frente de suas esposas. Ninguém estava a salvo daquela realidade. A morte dele poderia ser a de qualquer uma daquelas pessoas...
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Via meu pai ligando para os bombeiros, numa tentativa de salvar o alvo de tão enfurecidas balas... em vão, pois o que estava deitado na rua já não passava de um corpo sem vida. A vítima já estava até esfriando...
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Tomei coragem e fui olhar a rua. Já tinha me cansado das imagens produzidas pela minha mente baseadas nos ruídos lá de fora... E vi o corpo que jazia no meio da encruzilhada, bem embaixo da minha janela...

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Via sangue. E dessa vez via de verdade, com os olhos e não com a imaginação. O defunto estava em meio a uma poça vermelha, deitado em cima do próprio sangue...
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A cena era bem pior do que eu previa! Mesmo sendo dotada de uma imaginação bem fértil, eu jamais poderia recriar em mente as expressões de torpor daquelas pessoas. Eram umas caras de impotência, de desespero, de indgnação e sobretudo, de medo!
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Levaram a viúva aos prantos para longe daquele cenário absurdo- sim, ela conseguiu acreditar no que acontecia e portanto, chorar. Ninguém sabe muito bem lidar com a morte, ainda mais com uma morte tão violenta e tão sem propósito, sem aviso... ninguém queria lidar com aquela morte.
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Aos poucos, a vizinhança foi recolhendo-se às suas casas e quando a perícia chegou, o local já havia sido abandonado por todos... Só o defunto 'descansava em paz'...
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EM PAZ?!??
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.Bem, ele descansava sim, mas numa paz que eu não quero para mim.

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Bom... esse texto foi escrito na madrugada do dia 28 para o dia 29 de dezembro de 2007, quando mataram alguém aqui perto, dias depois das festividades natalinas...


... eu não saberia expressar-me de outra forma... espero que esse tipo de coisa deixe de acontecer em 2008, mas sei bem que isso não será um desejo muito fácil de ver realizado...


Tenho medo... aqui era tão tranquilo há uns anos atras... e agora isso! Onde vamos parar?!?