quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Silêncio


Creio que às vezes sou autista. Tenho certa dificuldade em me relacionar apropriadamente ao ambiente e quando isto acontece, fico em silêncio. A maioria das pessoas não me entendem, exigem respostas de pronto, mas eu não as tenho em todas as ocasiões. Depois de certo tempo, passei a me perguntar o porque disso e cheguei a conclusão de que as pessoas não sabem lidar com o silêncio. Algumas delas associam a ausência de som com a solidão, outras tem medo do seu próprio pensamento, de suas reflexões. Já reparou como o mundo é barulhento? As pessoas chegam em casa sozinhas e já saem ligando a televisão pra não suportar aquele hiato sonoro. Mesmo que tenham outras atividades, a TV só tem a função de fazer barulho, uma simulação de uma falsa companhia. É tudo tão alto, ruidoso e estrondoso como uma bomba atômica preste a estourar.
Admito que é complicado quando você está falando com alguém e o cidadão não te responde... Será que ele está ouvindo? É provável que sim, porém naquele momento aquela pessoa está passando por uma enxurrada de pensamentos e incapaz de produzir uma resposta eficaz. Entenda que alguns levam mais tempo que outros e que isso não é critério de inteligência, capacidade mental ou intelectual.
Nem sempre as palavras expressam melhor que um belo silêncio. E com o tempo e treino você consegue interpretar além das verborragias habituais, e isto lhe será um diferencial. Termino com uma citação de Ciro: "Arrependo-me muitas vezes de ter falado; nunca de ter silenciado".

6 comentários:

Marcos Aquino disse...

O primeiro parágrafo é Baudrillard puro. Os signos midiáticos, por sua reprodução incessante, tanto perderam o poder de representação das coisas que não seria de se estranhar ter como imagem do fim do mundo uma TV que permanece ligada após a extinção da raça humana. Se eu fizesse um filme, esta bem poderia ser a cena final.

Beijos

Marcos Aquino disse...

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

viva o poeta do amor (quer dizer, do povo, rsrsrs)!

beijos!

Rackel disse...

É, de fato, 'as palavras são de prata, mas o silencio é de ouro'...

Eu preciso de silencio de vez em quando, mas meus pensamentos fazem tanto barulho...

bj

~♥~ Fuxicos e Retalhos ~♥~ disse...

.........hum.. agora me deixaste sem graça, sou uma tagarela compulsiva e admito o pecado de julgar pessoas que se calam, chego a imagina-la deprimidas...
Oras ... q constrangimento fiquei

Abraços Fraternos

Bianca Feijó disse...

Oi, Vica!Obrigada pela visita...
Pois é, a Rackel está sempre por lá, e espero que vc também volte outras vezes.
Gostei da citação do Ciro!
Beijos!

Xuxudrops disse...

Amo o silêncio, mas ele me detesta.
Vivemos uma relação de amor e ódio, confesso.