terça-feira, 31 de agosto de 2010

Eu abandonei o magistério... ou não!

Para quem não sabe, eu me formei em Letras - Português-Latim - e fui professora de português para estrangeiros no cursinho da mesma universidade onde fiz meu bacharelado e minha licencHatura - a troca do "i" pelo "h" é somente mais uma das minhas irônias. Pouco depois de terminar a primeira faculdade, comecei a segunda, em História da Arte.

Nada disso tem a menor importância agora, pois joguei para o alto todos os diplomas que acumulei ao longo desses 6 anos de vida acadêmica para vir à França escrever com teclado AZERTY e andar de trem suburbano - que leva 55 malditos minutos para chegar ao centro de Paris. E vim também para contribuir na educação de 2 criancinhas fofas de 3 e 6 aninhos. Isso compreende buscar na escola, dar o lanchinho, brincar com eles, levar na pracinha, ajudar no dever de casa, separar as brigas, arrumar os brinquedos que eles esparramam pela casa, limpar os cuzinhos sujos de merda...

Em resumo, vim como jeune fille "Au Pair".

Há quem diga que ser Au Pair é uma outra forma de elevar um ser. Em francês, utiliza-se o termo "elevar" em vez de "educar", no sentido de fazer com que o pequeno ser que você tem em suas mãos "cresça", "eleve-se". É por isso que aqui na França até os 18 anos você é "élève" e só se torna "étudiant" quando vai para a faculdade. Bom, deve ter alguma coisa de interessante em limpar bunda de criança e fazê-las brincar sem se estapear. Deve ter algo de sublime nisso. Só não sei dizer o que é!

Por enquanto, nem mesmo o curso de francês - obrigatoriedade do programa Au Pair aqui na terra do Sarkozy - parece valer a pena. Aliás, as minhas impressões sobre o povo do velho mundo são as mais instáveis possíveis. Tem horas nas quais eu amo estar aqui, tem dias em que odeio. TPM talvez... Sobre o meu atual "trabalho" então, nem se fala!

Um dia eu vou entender a razão de muitas coisas que passam na minha cabeça neste exato instante, como por exemplo, como reagir quando uma criança quer te obrigar a brincar com ela e SÓ COM ELA, deixando o pobre do irmãozinho de lado, e POR QUE eu me sinto mal quando não consigo fazer com que eles se entendam, com que tenham modos. Eles não são meus filhos, oras, porque me preocupar tanto com eles? Ninguém vai chamar a minha atenção se eles fizerem besteiras, ninguém vai me recriminar por não ter conseguido "bien elever" as crianças. Alias, porque pensar na educação e no bem estar deles quando eu poderia estar fazendo coisa muito melhor, como por exemplo, dormir? Eu sou apenas a Au Pair, a babá! Não há a menor necessidade de pensar nas crianças das quais tomo conta no meu "horário livre"...

Bom, não entendo mais nada do que faço, sinto ou escrevo. Talvez seja a minha veia para o magistério voltando a pulsar. Talvez seja instinto feminino. Talvez eu vá sentir falta deles quando for embora...

J'en sais rien!

Por enquanto, vou me contentando em vos escrever esse breve relato da minha vida. Minhas reais ilusões, decepções, sonhos e crenças, bem, isso tudo deixo para mais tarde. Por enquanto é só um breve emaranhado de sentimentos, tão confusos que mal conseguem sair da cabeça em forma de palavras. A única conclusão à qual posso chegar no momento, é que isso de ser Au Pair não tem nada de magistério, mas tem muito de MISTÉRIO!


Por Raquel D. C. Ferrerira

3 comentários:

Anônimo disse...

Talvez esteja chegando a hora de ser mãe...

Rackel disse...

Ou talvez esteja chegando a hora de ser titia!!! Sabia que a minha irmã esta gravidinha da silva?

rsrsrs

Bah disse...

Que legal, sempre quis ser au pair, mas acho que não tenho vocação nenhuma rs...

Kisu!